Miranda pesquisava em uma das bibliotecas da Universidade de Londres. Estava trabalhando em seu título de Ph. D. em história moderna. Infelizmente, sua tese não estava na melhor das formas. Pelo visto, não existiam muitas fontes sobre tendências de moda francesas na segunda metade do século XVIII. Com uma pilha de livros na sua frente, Miranda calmamente folheava um por um. Qual não foi sua surpresa ao encontrar, num livro velho e empoeirado, de capa de couro, sobre história da psiquiatria, um pequeno trecho sobre uma tendência ocorrida da década de 1760.
“No século XVIII, Wiliiam Brodie, naturista inglês que na época tentava entender “como determinadas tribos selvagens da Polinésia tratavam de casos de ensandecimento” (diário de campo de Brodie, 17/06/1852), percebeu que algumas tribos, “mui calmas e hospitaleiras” como afirmou, tinham o costume de pendurar em protuberâncias dos corpos de seus membros pequenas argolas e adornos feitos de maderia e pedras. Intrigado, Brodie procurou saber o objetivo desse costume e anotou em seu diário: “aparentemente esses adornos são oferendas ao deus Klunk. Pelos velhos mitos das tribos, aqueles que usam tias adornos se protegem de Klunk, o deus das sombras, que age à noite fazendo as pessoas agirem fortuita e incompreensivelmente.” Brodie teve idéias.
De volta à Europa, na França, país de sua esposa, Brodie desenvolveu um método terapêutico para curar os ensandecidos. Ele se baseou em suas experiências na Polinésia para montar um tratamento baseado em adornos e penduricalhos corporais. Para tanto, se associou a um outro inglês, James Pierson, que havia se instalado em Paris anos antes para aperfeiçoar-se na fina arte da joalheria.
Juntos, desenvolveram então nos idos de 1760 o método Brodie & Pierson. Inicialmente, ele foi aplicado em alguns manicômios próximos à capital francesa, com parcos resultados. Mas isto estava para mudar. Em 1765 o filósofo Voltaire com toda sua irreverência passou a usar um Brodie & Pierson em um ponto estranho de sua orelha. Logo, todas as damas de Paris desejavam usar um. Rapidamente, os adornos passaram a ser símbolos da luta contra o antigo regime, o que desencadeou uma forte reação do governo. Por 1770, os Brodie & Pierson, como eram chamados os adornos, estavam proibidos. A reação do governo foi tão forte que à época da revolução esses penduricalhos eram tido apenas como anedotas, ou como se diria atualmente, mitos urbanos.
Alguns historiadores explicam a total ignorância em respeito a esse episódio da história moderna francesa como uma associação entre a campanha do governo absolutista francês e um caso amoroso que Pierson teve com Anne Toinette Champion, esposa de Denis Diderot. Fato tal que manteve a dupla de ingleses fora da Enciclopédia.”
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