Porque é fato que Transformer é um dos maiores álbuns do rock'n'roll (rock'n'roll pois é de uma época em que o rock, esse negócio amorfo, ainda era rock'n'roll) e, não obstante esse fato, meu lado conservador (do ponto de vista estético, entendamos) acha meio estranha essa admiração por um disco tão gay.
Gay, homossexual, travesti e viado.
Ele começa, e muito bem, com "Vicious". Passa para "Andy's Chest", música que na minha opinião seria a perfeita declaração de amor pós-moderna se não fosse tão declaração-de-amor-do-Lou-Reed-para-o-Andy-Warhol, mas talvez justamente por isso seja pós-moderna. No meio do álbum temos a clássica "Walk On The Wild Side", uma canção sobre travestis ("And then he was a she / She says, hey babe, take a walk on the wild side"). Em seguida "Make Up" cujo refrão é "Now we're coming out / Out of our closets / Out on the streets / Yeah, we're coming out", QED. E depois de mais algumas canções que ofenderiam os republicanos (e alguns dos democratas, mas só alguns), o disco fecha com goodnight ladies. E, já ia me esquecendo, o nome do disco é Transformer. Transformer.
Em compensação o disco é certamente o melhor que Reed poderia fazer. Impressionantemente, ele faz algo ao mesmo tempo pessoal e reminiscente do Velvet Underground. E há David Bowie na cabine do estúdio, produzindo o álbum e na cabine de gravação, fazendo backing-vocals em "Satellite of Love" (Sate-uuuuuu of loooooooooooove!). E o rock é bom e com um nível de pureza verdadeiramente inigualável para 1972 em "Vicious", "Hangin' 'Round", "Wagon Wheel". E por mais gay que seja, a poesia em "Andy's Chest" é boa, o melhor que uma canção pop pode ser, e a sinceridade em "Satellite of Love" e em "Perfect Day" é tocante.
E muito mais. "Walk on the Wild Side" é um belo retrato de uma geração de estranhos tipos urbanos de Nova York dos 60-70, além de uma ótima canção para quando batem as quatro horas da manhã e você simplesmente está cool consigo mesmo, aproveitado o momento; tudo isso com, simultaneamente, dois baixos sendo tocados. Porque o disco leva dois baixos nessa música, um arranjo de piano e outro de violino lindos em "Perfect Day", mais piano em "New York Telephone Conversation" e uma tuba (?!) em "Goodnight Ladies".
E justamente porque "Goodnight Ladies" está provavelmente explicando uns 63% dos meus sentimentos agora deixo-os com um estranho vídeo dessa música, seguido da letra. Amanhã eu escrevo sobre como Rambo é a maior série do cinema, a fim de reafirmar o que resta da minha masculinidade.
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